Não presta querer induzir a si próprio, goela abaixo, um tipo específico de
liberdade que você já jamais conheceu ou quis fazer parte. O argumento dela
foi: “eu já era assim quando você me conheceu”. É, eu tenho medo até de pensar em
com que idade ela descobriu cada coisa que já sabe dessa vida, principalmente
pelo fato de não serem poucas, ou de serem exageradas demais para a idade,
corajosas demais pra o gênero.
Que moleque não gostaria de ver duas garotas se beijando?
Eu não gostaria, não ao vivo, não a minha garota. Alta daquele jeito
não parecia minha garota, o efeito daquele maldito licor doce azul deixava a
Luz da Manhã estranha, ela nunca usava de sarcasmo comigo, ela podia beber
qualquer coisa, isso só acontecia quando era o maldito Curaçau Blue, era só com
essa merda que ela pegava pesado, devia se chamar coração azul, que se juntava
com a outra cor do apelidinho da amiguinha-tira-onda e com meu rosto vermelho
faziam um RGB perfeito, cor e luz se misturando em sintonia com a música de
péssima qualidade e o insuportável cheiro de cigarro mentolado - que só de
lembrar agora me fez acender um Hollywood vermelho pra firmar o quanto é bom
fazer mal pra si com algo que não feda a hortelã queimado – que só me fizeram
catar a chave e carteira na mesa e ir embora a tempo do próximo madrugueiro.
Você não teria ficado ali, vendo sua namorada beijar a melhor amiga.
“Você me conheceu assim”. De fato antes de eu ganhar um primeiro
beijo da Luz da Manhã eu já tinha visto ela beijando outra garota. Por esse
motivo a discussão sobre a noite anterior acabou girando em torno de eu ter ido
embora sozinho e sim, terminou com um pedido de desculpas que saiu da minha boca, não a da minha garota. Eu sei não por qual razão eu falo da Luz da Manhã agora como se no
passado ela tivesse sido minha garota, minha garota e-fe-ti-va-men-te. Eu não
sei porque hoje eu me refiro a ela como Luz da Manhã e não como o real nome da
vagabunda que furou meu coração com a diversão de quem estoura um plástico bolha.
Eu não sei porque eu me deixava fazer parte daquele pequeno grupo
de pessoas que como meus amigos só sabiam me empurrar pra cima da Luz da Manhã
e pra longe de mim mesmo. O dono da casa da festinha que eu falava a pouco tinha
maior paixão platônica pela menina que tava com os lábios colados nos da minha
namorada e estava OK com isso. Era do lado desse cara que eu andava, o quase
casal lésbico presente na cena completam o grupo de pessoas que ainda devem
falar de mim como um amigo, um amigo viajante, cada um deles em suas casas ou
juntos e sem ter a maior ideia de que eu voltei pro Brasil a poucos dias.
A situação em que me encontro agora me faz sorrir sozinho as vezes,
enquanto eu ando. Acho que foi por esse motivo que hoje uma senhora com trapos
de retalhos, que gritava pra todos na rua XV: “o futuro está próximo! O futuro
está próximo!” parou ao me ver passar e disse: “o futuro está próximo filho, o
que você vai fazer a respeito?”. Eu parei, olhei nos fundos dos olhos escuros
dela e respondi: “Expor a vida pessoal, sexual e criminal de uma cretina em um
blog na internet, derrubar cada um que ficar ao lado dela”.
Com um sorriso amarelo e estarrecedor ela me disse que o que quer aquilo
que eu disse significasse, era pra eu ir até o final, então me pediu um
cigarro. Não que eu tivesse pensando em desistir, mas aquelas palavras me
deixaram tão mais motivado que antes de continuar andando eu dei dois cigarros
pra velha, então voltei pra casa, sentei e escrevi este texto, na esperança de
pelo menos um dos meus amiguinhos da turma da Luz da Manhã reconhecerem a
história e irem correndo contar pra ela, pra aí sim, eu começar a disparar
aquilo que vai chocar de verdade.